quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Tás a ver?

Estás a ver o que eu estou a ver?
Estás a ver? estás a perceber?
estás a ouvir o que eu estou a dizer?
Estás a ouvir? Estás a perceber?
Eu tenho visto tanta coisa nesse meu caminho – nessa nossa trilha,
que eu não ando sozinho – tenho visto tanta coisa, tanta cena...
mais impactante do que qualquer filme de cinema
e se milhares de filmes não traduzem, nem reproduzem
a amplitude do que eu tenho visto
não vou mentir pra mim mesmo, acreditando
que uma música é capaz de expressar tudo isso
não vou mentir pra mim mesmo, acreditando
mas eu preciso acreditar na comunicação
mas eu preciso acreditar
não há melhor antídoto pra solidão
e é por isso que eu não fico satisfeito
em sentir o que eu sinto, se o que eu sinto fica só no meu peito
por mais que eu seja egoísta
aprendi a dividir as emoções, e os seus efeitos
sei que o mundo é um novelo, uma só corrente
posso vê-lo por seus belos elos transparentes
mudam cores e valores, mas tá tudo junto
por mais que eu saiba, eu ainda pergunto:

Tás a ver? A vida como ela é
Tás a ver? A vida como tem que ser
Tás a ver? A vida como a gente quer
Tás a ver? A vida pra gente viver

"...Já que a vida é feita de pequenos nadas..."

Tás a ver? a linha do horizonte
a levitar, a evitar que o céu se desmonte?
foi seguindo essa linha que notei
que o mar na verdade é uma ponte
atravessei-a e fui a outros litorais
e no começo eu reparei nas diferenças
mas com o tempo eu percebi, e cada vez percebo mais
como as vidas são iguais, muito mais do que se pensa
mudam as caras /
mas todas podem ter as mesmas expressões
mudam as línguas, mas todas têm
suas palavras carinhosas e os seus calões
as orações e os deuses também variam
mas o alívio que eles trazem vem do mesmo lugar
mudam os olhos e tudo o que eles olham
mas quando molham, todos olham com o mesmo olhar
seja onde for, uma lágrima de dor
tem apenas um sabor e uma única aparência
a palavra saudade só existe em português
mas nunca faltam nomes se o assunto é ausência
solidão apavora, mas a nova amizade encoraja
e é por isso que a gente viaja
procurando um reencontro, uma descoberta
que compense a nossa mais recente despedida
nosso peito muitas vezes aperta, nossa rota é incerta
mas o que não é incerto na vida?

A vida é feita de pequenos nadas
que a gente saboreia mas não dá valor
um pensamento, uma palavra, uma risada
uma noite enluarada ou um sol a se pôr
um bom dia, um boa tarde, um por favor – simpatia é quase amor –
uma luz acendendo, uma barriga crescendo
uma criança nascendo, obrigado, Senhor
seja lá quem for o Senhor
seja lá quem for a Senhora
a quem quiser me ouvir, e a mim mesmo
preciso dizer tudo o que eu estou dizendo agora
preciso acreditar na comunicação
não há melhor antídoto pra solidão
e é por isso que eu não fico satisfeito
em sentir o que eu sinto, se o que eu sinto fica só no meu peito
por mais que eu seja egoísta
aprendi a dividir minhas derrotas, e minhas conquistas
nada disso me pertence
é tudo temporário no tapete voador do calendário
há que temos forças, pra somar e dividir
enquanto estivermos aqui
se me ouvires cantando, canta comigo
se me vires chorando, sorria.


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